Por que a culpa?

     A definição de culpa está diretamente ligada ao conceito judaico-cristão, que compreende a culpa a partir da noção de pecado. Deste modo, entende-se que a culpa existe desde a nossa origem, ou seja, a partir da queda de Adão e Eva no jardim do Éden. Esse texto, abordará a culpa a partir da perspectiva

do cristianismo como também da perspectiva psicológica.

   Em todas as culturas o sentimento de culpa está presente, de modo que, cientistas sociais, como antropólogos e historiadores, tendem a afirmar que este é um sentimento universal, ou seja, onde existe vida humana a culpa estará presente.  Assim como no cristianismo que tem a Bíblia como seu principal texto sagrado, a culpa é encontrada em textos diversos, como o Torá, do judaísmo e no Alcorão, do islamismo.

Culpa na percepção do cristianismo

     Para o cristianismo, o que se entendia como uma desobediência ou “um ato de liberdade” no início, se tornou um ato que gerador de culpa, sentimento esse que está presente em nossa memória. Assim, é possível constatar a intrínseca relação da culpa e a recordação, isto é, de uma ação ocorrida do passado.

    A concepção religiosa entende que, o fato do homem e mulher terem gerado uma ruptura entre o Divino e a raça humana, onde normas de condutas e valores que os orientavam tinham sido quebradas, de acordo com o relato do livro de gêneses 3:5, passou por meio da desobediência a ter o conhecimento sobre o que era bom e mal (Nudez, morte de Abel por Caim).

    Logo, nesta concepção, toda vez que há um desvio dessas normas, ocorre um mal-estar psicológico que indica um sentimento de culpabilidade.  Para Frankl, (2008) a culpa é inerente a raça humana, isto é, é uma condição humana. Neste caso, somos culpados porque cometemos algum erro ou pecado, que por sua vez gera sofrimento psíquico e nos leva ao desejo de obter o perdão/redenção. Neste sentido, a partir do momento que a pessoa alcança o perdão divino este poderia viver em paz, em meio a dor e perdas.

Culpa na Percepção Psicológica

     A concepção da psicológica da culpa é apresentada a partir de vários conceitos. Para Russel, entende que o sentimento de culpa é a principal causa psicológica que desencadeia infelicidade na vida dos adultos. Descarte, afirma que é um sentimento com origem no inconsciente.  

   A psicanalise por sua vez, considera que a culpa é irremovível, sendo que esta é uma consciência moral ligada ao sentido de falta, diferente do que pensa a noção religiosa que transita na ideia de redenção e salvação. Ainda, segundo a psicanalise, compreende-se que a humanidade é culpada por causa da ruptura com a ordem da natureza e nos tornamos culpado por pensar, falar ou fazer, ressaltando que, por meio da fala a culpa pode ser suportável.

   Cabe mencionar, que não há uma cura para o sofrimento das dores da alma, assim como Frankl, a psicanalise também entende que a culpa é inerente a condição humana e que pode levar ao adoecimento. Por isso, Freud indica que com uma boa escuta, a angústia e a culpa podem ser amenizadas, mas ainda continua a existir, e através da fala (psicoterapia), a pessoa aprende a dar sentido para essa angústia, desencadeada por tal sentimento.

Cristianismo X Psicanalise

   Tanto no cristianismo como na psicanalise, há uma concordância de que não adianta o homem tentar buscar mecanismos superficiais como drogas licitas ou ilícitas para amenizar a tristeza e gerar um pouco de felicidade. Portanto, no apagar das luzes o vazio existencial, angústia ou a culpa estará presente. 

   A verdade é que, de uma forma ou outra, sabe-se que o sentimento de culpa está sempre presente e desencadeia sofrimento e as duas visões tentam explicar o porquê desse sofrimento humano. Por que a culpa? porque somos humanos, sujeitos a erros. E dependendo que perspectiva você concebe a culpa, saiba que a fala é um sinal de esperança e conforto.